O Alegre Canto da Perdiz






Autor: Paulina Chiziane
Título: O Alegre Canto da Perdiz
Ano: 2017
Edição: 3ª Ed.

O Alegre Canto da Perdiz é uma obra da romancista, moçambicana Paulina Chiziane, uma narrativa que tem como personagem principal a Delfina.
Delfina era uma mulher linda, amada e assediada por todos os homens desde negros até brancos marinheiros e donos das plantações na província da Zambézia.
Era ambiciosa, com uma ganância desmedida. Ela se apaixona por José dos montes, um negro  condenado que trabalhava nas plantações.
A paixão era tão ardente e avassaladora que decidiram casar-se.
José dos Montes não conseguiu dar a Delfina a vida que ela sonhou, muito menos a que tinha quando era a prostituta do cais. Por amor a ela e por medo de perdê-la ele decide vender a sua alma ao diabo e virar assimilado, abandonando a tradição, hábitos e virar-se contra o próprio povo por conta do bacalhau, das azeitonas, do chá e do açúcar.
José matou muitos dos seus, até o seu melhor amigo e conselheiro, o velho Moyo, curandeiro e médico tradicional, respeitado pelos nativos e temido pelos portugueses.
José foi traído pelo seu patrão, dono das plantações. Enquanto ele ia trabalhar, seu chefe deitava-se com sua esposa e dessa traição nasceu uma mulata, a Jacinta.
Sempre foi sonho de Delfina casar com um branco para ter filhos mulatos, pois segundo ela os de pele clara não sofreriam, teriam um futuro garantido, não pagariam o imposto de palhotas e nem precisariam trabalhar duro pra sobreviver.
José dos Montes não aguentou com a traição abandonou a família e foi refugiar-se nos montes namuli.
Delfina, com 3 filhos por cuidar e sem o marido, decidiu caçar um homem branco pra casar. Poi isso procurou o jovem curandeiro Simba. Este sempre foi louco de amores por Delfina, desde os tempos em que era a prostituta do cais.
Simba usou a sua magia para enfeitiçar o Velho Soares a pedido de Delfina, em troca receberia vida boa e uma boa casa coberta de chapas de zinco.
Delfina conseguiu tudo o que queria, o velho Soares caiu de amores que ate abandonou a família. A sua esposa acabou voltando para Portugal cheia de desgostos.
Delfina tornou-se a única mulher a viver na zona nobre e com uma vida de rainha. Só que acabou relaxando, deixando de pagar na íntegra tudo o que prometera ao curandeiro simba. Este, por sua vez, desfez o feitiço e o encanto acabou.
Soares deu-se conta da cagada que cometeu ao abandonar a família. Porque na verdade ele deu-se conta de que delfina era uma mulher sem valores e que desprezava sua família, sua raça e seus conterrâneos.
Um dia ele foi embora sem dizer adeus, mas deixando a sua fortuna para os seus filhos e até para aos que eram negros que eram desprezados pela própria Delfina.
Delfina, desesperada e desamparada foi a busca, novamente, dos serviços de Simba e acabou entregando a sua filha mais velha, a Maria das Dores como pagamento pelos serviços prestados.
Maria das Dores era filha mais velha, a que teve com José dos Montes.
Simba aceitou logo de primeira ficar com Maria das Dores, pois sabia que era uma das herdeiras do velho Soares. Maria das Dores vivia acorrentada e embriagada, uma forma que o Simba achou de mantê-la ébria para poder obter o certificado de insanidade e conseguir gerir os seus bens, uma vez que Das Dores era menor quando se casou.
Teve três filhos com Simba, mas por causa do sofrimento um dia acabou fugindo para Gurué e durante o percurso é atacada por cobras e acaba parando num hospital e seus filhos desapareceram.
Passou anos a procura dos seus filhos que quase enlouqueceu.
Na verdade seus filhos tinham sido levados por freiras, cresceram um era médico, outro padre e a mais nova a Rosinha não sei ao certo o que ela tornou-se.
Mas houve um dia grande, o dia do reencontro, em que os três irmãos ficaram sabendo que afinal a louca que deambulava pela cidade a final de contas era sua mãe Maria das Dores. O José dos Montes também trabalhava como cozinheiro e fingiu ser mudo durante os 40 anos que esteve ali, e ainda descobriram que o médico tradicional que vivia hipnotizando as pessoas na zona, afinal tratava-se do Simba que fugira da sua terra em busca de novos horizontes tentando encontrar a sua esposa Maria das Dores. Naquele encontro só faltavam a Delfina e os seus três filhos. Na verdade já nem estavam com ela, porque a Jacinta, a mulata, quando se apercebeu do que a mãe fizera com a sua irmã Maria das Dores, esta levou seus dois irmãos e foi buscar abrigo nas freiras. Jacinta acabou casando com um branco realizando um grande sonho de sua mãe Delfina.
José dos Montes vendo parte da família reunida fez mais de trezentos quilómetros atras do seu grande amor, a Delfina, pra levá-la junto da sua filha Maria das Dores.
Na verdade já estava velha e cansada. Até tinha se tornado uma cafetina, vendendo meninas virgens aos brancos marinheiros do cais e aos donos das plantações.
Mas quando José dos montes chegou, ela já estava meio doida, sozinha, sem eira nem beira. Ao se aperceber da presença do seu grande amor, o José, a lucidez tomou conta dela.
Foram juntos até os montes namuli onde estavam a sua filha e seus netos. Ela renasceu com o reencontro.
Pois com o perdão de sua filha, ela sentiu-se mais leve e com menos peso de consciência.
Eis o alegre canto da perdiz.
 
Nota do Leitor
O Alegre Canto da Perdiz é uma obra maravilhosa e que me fez viajar pelas terras da Zambézia.
A Paulina levanta nesta obra questões como a colonização, o racismo, a guerra de etnias.
A colonização foi um acontecimento abominável e revoltante até para quem não viveu mas que tem que lidar com as suas consequências.
De acordo com a obra, os portugueses chegaram a Moçambique e foram bem recebidos com cânticos, danças e tudo de melhor que tínhamos e em contrapartida eles escravizaram e deportaram a nossa gente, muitos tiveram que pagar imposto na sua própria terra e ainda ter que entregar suas esposas de bandeja para o colona usar e abusar delas em troca de isenção fiscal, do chá, do açúcar, do piri piri.
No texto temos a história de um personagem chamado Lavaroupa Francisco da Silveira que tinha uma mulher linda e cobiçada pelo seu patrão, fez a matemática rustica e viu que se resistisse podia ser deportado e acabaria não ficando com ela, então engoliu o seu orgulho e colocou a sua esposa na cama do branco.
A esposa do Lavaroupa engravidou e teve gémeas mulatas, voltou a entregar a mulher para um indiano por conta do crédito na loja, do achar e piripiri. Muitos tiveram quase todas as raças dentro de casa e os filhos negros eram sempre os menos amados e os mais sacrificados.
 Podemos encontrar na obra a guerra das raças apresentada em forma de uma pirâmide onde temos os brancos no topo, os mulatos no meio e os negros na cauda da história. Tanto que em maior parte das instituições de prestígio como bancos só se encontram lá brancos e em último caso mulatos. Os negros servem pra limpar o chão, pra serem serventes e para ocupar outros cargos sem interesse.
O estigma da raça deixou sementes cancerígenas que se multiplicam como a raiz de um cancro, e matarão gerações mesmo depois da partida do colono, disse Paulina.
A obra traz também um aspecto importante relacionado a guerra de etnias, o facto do amor de Delfina e de José dos montes ter conseguido passar por cima da inimizade entre chuabos e lomwes.
É uma obra carregada de muita sabedoria e muitos questionamentos de uma forma geral.
Eu amei mesmo, e recomendo.

MS

Comentários